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Batalha

by Kauê Garcia

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1.
Chomsky I 02:01
Bem, deixe-me começar referindo a algo que já discutimos, que é, se for correto, como eu acredito que seja, que um elemento fundamental da natureza humana é a necessidade de trabalho criativo de investigação criativa, de criação livre sem o efeito limitante e arbitrário das instituições aí, claro, sucede que uma sociedade decente deve maximizar as possibilidades dessa característica humana fundamental ser realizada. Isso significa tentar superar os elementos de repressão e opressão e destruição e coerção que exista em qualquer sociedade existente – a nossa por exemplo – como um resíduo histórico. Ora, um sistema federativo, descentralizado, de associações livres incorporando instituições econômicas e sociais, seria ao que me refiro como anarcossindicalismo e me parece ser a forma apropriada de organização social para uma sociedade tecnológica avançada, na qual os seres humanos não tenham de ser forçados a colocarem-se na posição de ferramentas, de engrenagem na máquina, em que o desejo humano criativo que eu considero intrínseco à natureza humana, seja de fato capaz de realizar-se de alguma forma. Não sei de que forma ele será.
2.
Foucault I 03:44
Avanço muito menos na minha explicação do que o Sr. Chomsky, pois confesso que não sou capaz de definir, e menos ainda propor, um modelo de funcionamento social ideal para a nossa sociedade científica ou tecnológica. Por outro lado, uma das tarefas que me parece urgente, antes de tudo, é a seguinte: tem se o hábito – ao menos em nossa sociedade europeia – de considerar que o poder está localizado nas mãos do governo e que exerce graças a um determinado número de instituições especificas como a administração, a polícia, o exército. Sabemos que essas instituições são feitas para transmitir ordens, para lhes aplicar, e punir aqueles que não as obedecem. Porém, creio que o poder político se exerce também, além disso, ainda mais, por intermédio de um determinado número de instituições que aparentemente não tem nada em comum com o poder político, que aparecem como independentes do poder político quando na realidade não são. Sabe-se bem que a universidade, e de geral todo o sistema escolar, que na aparência é feito simplesmente para distribuir o saber, sabe-se que esse aparato escolar é feito para manter no poder uma determinada classe social e excluir dos instrumentos de poder outra classe social. Algo como a psiquiatria, aparentemente também destinada ao bem a humanidade e ao saber dos psiquiatras, a psiquiatria, portanto, é também uma certa maneira de fazer pesar um poder político sobre um grupo social. A justiça igualmente. Enfim, parece-me que a tarefa política atual, em uma sociedade como a nossa, é a de criticar o jogo das instituições aparentemente neutras e independentes; criticá-las e atacá-las de tal maneira que a violência política que se exercita obscuramente nelas, apareça, e que se possa lutar contra elas. Ao querer precipitadamente dar o perfil e a fórmula da sociedade futura sem ter feito a crítica de todas as relações de violência política que se exercem em nossa sociedade, arrisca-se de vê-las se reconstituir mesmo através de fórmulas tão nobres e aparentemente tão puras quanto aquela do sindicalismo anarquista.
3.
Chomsky II 02:18
Sim, eu certamente concordo com isso, não apenas em teoria como em ação. Isto é, existem duas tarefas intelectuais: uma, é a que eu estava discutindo, a de tentar criar a visão de uma sociedade futura justa. Outra é a de entender muito claramente a natureza do poder, opressão, terror, e destruição na nossa sociedade. E isso certamente inclui as instituições que você mencionou, assim como as instituições centrais de qualquer sociedade industrial. Ou seja, as instituições econômicas, comerciais e financeiras. E em particular, no período que se aproxima, as grandes corporações multinacionais Que não estão muito longe de nós fisicamente esta noite. Essas são as instituições básicas de opressão, coerção, e domínio autocrático. Que parecem ser neutras, já que eles dizem: “Bem, nós estamos sujeitos à democracia do Mercado”. Mesmo assim, acho que seria uma pena perder, ou pôr inteiramente de lado a tarefa mais filosófica e abstrata de tentar esboçar conexões entre um conceito de natureza humana, que possa dar pleno alcance à liberdade, à dignidade, e à criatividade e as outras características humanas fundamentais. E relacionar isso com alguma noção de estrutura social em que essas propriedades pudessem ser realizadas, e na qual a vida humana rica de sentido pudesse de efetivar. De fato, já estamos pensando em uma transformação social ou uma revolução social embora seja absurdo, é claro, tentar esboçar no detalhe o ponto que esperamos alcançar. Mesmo assim poderíamos saber alguma coisa sobre aonde nós pensamos estar indo e tal teoria pode nos guiar, nos orientar nesse sentido.
4.
Foucault II 01:31
Sim, mas existe um perigo nisso. Se dissermos que existe uma certa natureza humana, e que essa natureza humana não recebeu na sociedade atual os direitos e as possibilidades que permitam que ela se realizasse e... Isso é o que você disse, creio eu. Se se admite isso, não se corre o risco de definir essa natureza humana - que é ao mesmo tempo ideal e real, essa natureza humana ocultada e reprimida até hoje – não arriscamos defini-la com termos extraídos de nossa sociedade, de nossa civilização, de nossa cultura? De forma que, será que a noção de natureza humana... você mesmo sabe, ao começar suas pesquisas que não se sabia muito bem o que era essa natureza humana. Então, será que isso não corre o risco de nos induzir ao erro? Você sabe que Mao Tse-Tung falava de natureza humana burguesa e de natureza humana proletária, e considerava que não eram as mesmas.
5.
Chomsky III 02:51
Bem, veja, eu acho que no domínio intelectual da ação política que é o domínio de tentar construir uma visão de sociedade livre e justa nos fundamentos de alguma noção de natureza humana. Nesse domínio, nós encaramos o mesmo problema que nos deparamos na ação da política imediata. Por exemplo, para ser bastante concreto, muitas das minhas ações realmente têm a ver com a Guerra do Vietnã e alguma de minha energia vai para a desobediência civil. Bem, a desobediência civil nos EUA é uma ação conduzida diante de incertezas consideráveis sobre seus efeitos. Por exemplo, ela ameaça a ordem social em meios que possa, alguém pode argumentar, ocasionar o fascismo; e que pode ser uma coisa muito ruim para a América, Vietnã, Holanda e para todos os outros. Por outro lado, há um grande perigo em não fazê-la, ou seja, se você não faz isso, a sociedade da Indo-China será retalhada pelo poder Americano. Perante essas incertezas um tem que escolher um curso de ação. Bem, similarmente no domínio intelectual, este está diante das incertezas que você corretamente colocou. Nosso conceito de natureza humana é certamente limitado, parcial, condicionado socialmente, restritos por nossos defeitos de caráter e limitações da cultura intelectual na qual existimos. Mesmo assim ao mesmo tempo é de importância crítica que tenhamos alguma direção, que saibamos que objetivos impossíveis nós estamos tentando alcançar, se nós esperamos alcançar alguns dos objetivos possíveis, E isso significa que temos que ser ousados o bastante para especular e criar teorias sociais nas bases de um conhecimento parcial enquanto permanece muito aberto para a forte possibilidade e de fato sobrepondo a possibilidade. Isso ao menos em algumas direções, nós estamos muito longe do modelo.
6.
Foucault III 00:49
Me parece que, de qualquer forma, a própria noção de justiça funciona no interior de uma sociedade de classe como reivindicação feita pela classe oprimida e como justificativa por parte da classe opressiva. E em uma sociedade sem classes, não tenho certeza de que estaríamos a seguir nos servindo dessa noção de justiça.
7.
Chomsky IV 01:15
Bem, aqui realmente eu discordo. Penso que exista um tipo de base absoluta, - se você me pressionar muito terei problema, porque não posso traçar um esboço - mas algum tipo de base absoluta, residindo em última instância, nas qualidades humanas fundamentais em termos das quais nossa noção de “real” de justiça está fundamentada. Eu acho que nosso sistema existente de justiça... Eu acho que é muito apressado caracterizar nosso sistema existente de justiça como um mero sistema de opressão de classe. Eu não acho que eles são assim. Eu penso que eles expressam sistemas de opressão de classe e elemento de outros tipos de opressão, mas eles também expressam um tipo de procura para verdadeiros conceitos humanos valiosos de justiça, decência, amor, bondade e simpatia. E por aí vai, que eu penso ser real.
8.
Foucalt IV 01:23
Direi simplesmente o seguinte: Não posso me impedir de acreditar, contrariamente ao que você pensa, que essas noções de natureza humana, de justiça, de realização da essência humana, da realização da essência humana, são noções e conceitos que se formaram no interior de nossa civilização, no interior do nosso tipo de saber, e do nosso modo de filosofar, e que formam parte do nosso sistema de classes, e que não podemos, por muito lamentavelmente que isso resulte, nos servir dessas noções para descrever ou justificar um combate que deveria – que deve em princípio- destruir completamente aos fundamentos da nossa sociedade. Essa é uma extrapolação pela qual não posso achar uma justificação histórica.

about

"Batalha é um álbum que tem como mote a ideia de tensionar e diluir a fronteira entre as concepções de cultura erudita e popular. Discute-se essencialmente a latência existente no diálogo entre universos -que parecem à primeira vista- distantes.

Para impulsionar e efetivar essa discussão foram apropriadas batidas de Rap -disponibilizadas gratuitamente na internet- e um trecho específico do famoso debate entre os pensadores contemporâneos, Michel Foucault e Noam Chomsky, televisionado e mediado por um canal de televisão holandês no ano de 1971.

Ao somar estes dois mundos, desenha-se a possibilidade de repensar a construção da cultura de uma forma não binária e elitista. Mas, propensa a assimilação de referências vindas das mais variadas vertentes.
De igual para igual, tudo junto e misturado!"

credits

released April 17, 2017

Este trabalho foi apresentado inicialmente como uma vídeo-instalação na primeira Trienal Frestas, realizada em 2014 no SESC Sorocaba com curadoria de Josué Mattos.

Agora neste décimo lançamento da Malware, o trabalho se reconfigura e se materializa através de duas fitas cassetes, uma representando o Noam Chomsky e a outra Michel Foucault.
Este proposta tem caráter de uma instalação sonora, pois para a compreensão do trabalho, ambas as fitas precisam ser acionadas simultaneamente, onde cada aparelho de rádio utilizado representará um "oponente" desta batalha.

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Selo com a proposta de aglutinar e distribuir produções sonoras contemporâneas.

O projeto visa trabalhar com as mais possíveis abordagens, principalmente as hostis, questionadoras e intrusas, que tragam consigo a ideia de artisticamente subverter e tensionar o que já foi estabelecido por um padrão comercial. ... more

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